8.8.05

Mulholland Drive

um extracto de uma outra leitura para esse filme genial de David Lynch:

«Antes do “sonho” se encaminhar para o seu final, há a cena mais importante do filme. A cena do Clube Silêncio tem uma função muito específica e significativa para o entendimento das metáforas usadas por Lynch. É nesse local que Diane recebe a informação mais importante do sonho. É lá que o apresentador diz para ela que não há banda, que não há orquestra, que é tudo uma gravação. Ele, que na verdade é a própria mente de Diane, quer alertar que tudo que se passou nos últimos tempos não é real, é apenas um “sonho”. Esta análise é reforçada pelos factos que vem a seguir. Betty chora ao perceber que aquele sonho não é de verdade e, que em breve, vai acordar na sua vida destruída por todos os factores que já mencionei anteriormente. Além disso, outro facto importante é que, no clube, ela recebe a caixa azul.
Lynch passa a idéia de que esta caixa azul representa a vida de Diane. Uma vez que para terminar o sonho, a caixa é aberta e, este acontecimento, liberta a loira de seu último suspiro antes da derrocada de sua existência. A caixa está em poder do mendigo, de
Hollywood, a indústria que tem o poder sobre a vida das pessoas. É dela, também, que saem os velhinhos, que representam o que restara de pureza em Diane e que agora viraram culpa.
O diretor, na cena do clube, mostra algumas características do cinema que não são focadas em outros filmes. Lynch demonstra que o som que ouvimos em uma cena não é necessariamente o que a cena produziu. Em outras palavras, o som dos filmes, seja trilha ou efeitos sonoros é produzido em separado, para que tenhamos mais realismo, o que não deixa de ser uma contradição. Podemos perceber claramente essas intenções com o diálogo do apresentador do clube: “Não há banda! Não há orquestra!”.

Image hosted by Photobucket.com

Finalmente, o próprio nome do clube, Silêncio, a mesma palavra com que o filme termina, é uma nova homenagem. Se percebermos que a metalinguagem, o filme dentro filme, ou melhor, as referências à própria indústria, podem ver a segunda relação entre "Mulholland Drive" e "O Desprezo" ("Le Mépris", Jean Luc Godard). Os dois filmes criticam a indústria cinematográfica e ambos terminam com a palavra “silêncio”. Novamente é possível acreditar que Lynch não filmou dessa forma despropositadamente, tudo neste filme nos leva a crer que não há coincidências.

Image hosted by Photobucket.com

Ainda falando sobre a cena do Clube Silêncio, é necessário comentar sobre a cantora Rebekah Del Rio e a música que canta, Llorando. A letra versa sobre o sofrimento de alguém que perdeu um grande amor. Além disso, a roupa usada pela cantora nos remete a que a tia Ruth deixa em cima da cama. Lynch parece projetar Diane, que perdeu seu grande amor ao matar Camilla na “vida real” para o palco. Ou seja, a própria Rebekah representa uma Diane no “sonho” e não por acaso, acaba morta ao fim de seu espectáculo.»

escrito por Flávio Soares Burlamaque.